O primeiro levantamento da vida e morte
de Paulo Virgínio foi realizado pelo senhor José Arantes, distinto oficial do
cartório de Registros de Imóveis e Anexos de Cunha, que no papel de escrivão de
juiz teve em suas mãos cópia da denúncia, oferecida pelo Dr. Promotor Público
da 2ª. Auditoria da primeira Circunscrição Militar da Capital Federal, cópia do
depoimento das testemunhas inquiridas no inquérito aberto no local do dia do
fuzilamento de Paulo Virgínio, e cópia do relatório da autoridade que processou
o inquérito.
De posse desses importantes documentos,
pôde o Sr. José Arantes atender à solicitação do Sr. J. A. César Salgado,
diretor do departamento da cultura cívica do clube Piratininga, de São Paulo,
segundo carta endereçada a ele em 20/07/1935.
Pretendia, portanto, o referido clube,
comemorar em agosto daquele ano a vitória de Cunha sobre as forças da ditadura
e nessa comemoração não poderia ser esquecido o nome de Paulo Virgínio.
Para tanto enviou-lhe um questionário
sobre a vida e circunstância da morte de Paulo Virgínio, o qual utilizou num
boletim sobre o Herói Cunhense, com clichê da viúva e dos três filhos, em
20/08/1935.
Paulo Gonçalves dos Santos era seu
verdadeiro nome, nascido e criado no bairro do Taboão em Cunha, possivelmente
em 26 de setembro de 1897 ( baseando-se em seu batistério) tendo em vista ter
sido arrancada pela ditadura a folha do livro de registro, relativa ao seu
nome. Seu pai chamava-se Virgínio Gonçalves dos Santos e a mãe Dª. Maria José
de Jesus, daí a razão de seu apelido Paulo Virgínio ( filho de...) modo muito
peculiar de se denominar os filhos no interior deste Estado.
Lavrador humilde e batalhador, vivia
com a família – a esposa, Juventina Maria de Jesus e os quatro filhos menores –
José, Virgílio, Julia e Clotilde ( que faleceu durante a revolução), no bairro
do Taboão, distante da cidade de Cunha, aproximadamente quinze quilômetros,
longe das tribulações de um centro urbano, junto ao aconchego do universo
familiar.
A partir de 10 de julho de 1932, os
bairros Rio Abaixo, Aparição, Campo Alegre, Taboão e Mato Limpo, passam a ser
“zona inimiga” e em termos um “outro país”, porque aí se aquartelavam os
soldados legalistas ou ditatoriais. Os tropeiros e as demais pessoas desses
bairros necessitavam de salvo-condutos para circular pelas redondezas, e assim
algumas tropas foram requisitadas pelos ditos soldados para supri-los de
munição e víveres, buscando-os em Paraty.
Além disso, muitos homens desses bairros
eram obrigados a trabalhar, também, a soldo de comida, deixando os familiares
escondidos no mato, à deriva.
Tudo corria relativamente normal nesses
bairros, embora muitas famílias,
temerosas de males piores, abandonassem as fazendas, sítios e casas, deixando-os
à deriva, para alegria dos soldados que se fartavam do gado, animais de carga e
de sela, porcos e víveres.
Além dos tropeiros, os ditatoriais
precisavam de batedores ou informantes para chegar a Cunha, através de trilhas
secundárias, margeando o Jacuí, surpreender as tropas paulistas, acantonadas em
locais estratégicos na estrada principal, dominar Cunha e atingir o Vale do
Paraíba.
Receosos de serem obrigados a
ensinar-lhe esses caminhos secundários e assim contribuir para a derrota dos
Paulistas, todos os homens fugiam para bairros distantes, em zona sob o domínio
dos paulistas, ou mesmo para os sertões de difícil acesso, enquanto as mulheres
ficavam quase todas juntas, à mercê da situação, quando não seguiam para casas
de parentes e amigos, fora do raio da região em conflito.
À noite os soldados vasculhavam as
casas à procura dos homens que poderiam informar as trilhas ou as posições das
tropas paulistas nas redondezas; ciente disso, eles dormiam no mato.
Para ira dos ditatoriais, nenhum dos
homens que conseguiram agarrar sabia ou dizia não saber desses caminhos
marginais. Restavam dois ou três que ainda estavam escondidos numa região
longínqua supostamente ao lado de algum reduto paulista. Dentre eles estava
Paulo Virgínio. E para pegá-los, o comandante das tropas, já avisado por alguém
onde estavam, simulou uma requisição, mandando alguém avisá-los para comparecer
ao acampamento para fazer requisição do que fora perdido e que depois da
revolução tudo seria restituído ou pago.
E assim, Paulo Virgínio, e mais um ou
dois amigos vieram atender o comunicado, porque dele mesmo havia sido pego
pelos “cariocas” um animal e outras coisas. Assim que surgiram, um de seus
companheiros presos disse ao comandante que aquele lá ( apontando para Paulo
Virgínio ), passava onde estavam as tropas paulistas. Dois ou mais soldados
após esse fato, ficaram de tocaia; e, quando chegaram na estrada, foram presos
e Paulo Virgínio amarrado com as mãos às costas.
A partir do momento de sua prisão ( 4
horas da tarde, aproximadamente, no dia 27 de julho de 1932 ), Paulo Virgínio
passa a receber insultos e ser agredido pelos soldados ditatoriais, porém a
tudo resistiu calado. E presos ficaram numa casa à beira da estrada, no bairro
da Aparição, permanecendo Paulo Virgínio a noite toda amarrado, ora de pé, ora
sentado, sem sair um só instante, enquanto seus companheiros saíram normalmente
para satisfazer as necessidades fisiológicas.
Ele não entendia porque dentre tantas
pessoas – cerca de nove, muitas delas parentes e as outras amigas, somente ele,
estava sendo tratado daquela maneira. Ficava calado durante a noite toda,
talvez por perplexidade, pois era humilhante para ele, homem simples, pobre,
porém trabalhador, não por estar preso com os demais, porque na revolução era
fato comum entre os cíveis da região; porém, ser amarrado, acoitado e
injuriado, era demais...
Entretanto, não sabia que havia sido
denunciado por um de seus próprios companheiros de cativeiro. Quem o fez,
certamente o fez por ignorância e medo de ser morto, sem pensar na conseqüência
drástica que haveria.
No raiar do dia 28/07/32,
involuntariamente, Paulo Virgínio tornou pior sua situação. Saiu, a fim de
satisfazer as necessidades fisiológicas, e em seguida, tentou escapar da
prisão, saindo apressadamente, mal sabendo que estava sendo vigiado. Na pressa
escorregou e caiu no córrego de outro lado da estrada e foi pego pelos
soldados.
A partir dessa denúncia, iniciou-se o
processo de seu suplício.
Levaram-no à presença do comandante
Tenente Airton Teixeira Ribeiro e este, prometeu-lhe liberdade, se contasse a
posição das tropas. Paulo Virgínio sabia, no entanto prometeu aos soldados
paulistas acantonados na região por onde passava para fugir dos “cariocas”, não
dizer onde estavam e assim, tinha passagem livre entre eles. Ante a negativa de
Paulo Virgínio, o dito tenente enraiveceu e entregou a vítima aos cuidados do
sargento Juvenal Bezerra Monteiro, que lhe rasgou a camisa, desferindo-lhe
socos e pontapés, no coRpo já fraco.
As afirmações de que era paulista e,
que São Paulo venceria, deixavam os ditatoriais ainda mais ferozes. A água que
fervia numa lata grande foi-lhe jogada no corpo já bem ferido e ensangüentado.
Em seguida levaram-no à bica do monjolo (existente nos arredores da casa) e
derramaram-lhe a água gelada do horroroso inverno de julho sobre o corpo
semidestruído. Conduziram-no logo mais, novamente, à presença do referido
tenente para responder as mesmas perguntas e ele reticente, enfatizou sempre o
“não” e que “São Paulo venceria”.
Isto posto, o tenente Airton reconduziu
a vítima ao algoz ( Sargento Bezerra ) para que este, desta vez, o fuzilasse.
Deram-lhe uma enxada e levaram-no
sozinho a alguma distância da casa, onde estavam presos seus companheiros, para
que ele cavasse sua própria sepultura; e nem bem terminara de completar os sete
palmos de profundidade, deixou cair a enxada e gritou-lhes que “São Paulo
venceria” e que sua morte seria vingada. Em seguida ouviram-se, à distância, os
tiros desferidos pelos sargentos Juvenal Bezerra Monteiro, Roque Eugênio de
Oliveira, Ascendino Paiva e o fuzileiro naval Raimundo Jerônimo, sobre o corpo
que caía inerte na sepultura, que ele próprio cavara.
Eram, aproximadamente, seis entre sete
horas da manhã de 28/07/32.
Morreu Paulo Virgínio, permaneceram,
portanto sua simplicidade, bravura e sacrifício, transformando-o em mártir e
herói.
Rendemos-lhe, portanto nossas
homenagens.
MATÉRIA FORNECIDA PELO GRANDE ESTUDIDO DA REVOLUÇÃO DE 1932, SR. JOÃO VELOSO DIRETOR DO CENTRO DE CULTURA E TRADIÇÃO DE CUNHA.
CAPITÃO PM ANDERSON - SOLICITO PESQUISAR A PARTICIPAÇÃO DO VETERANO SEBASTIÃO SATURNINO DE BARROS, MECÂNICO DE MÁQUINAS EM 1932. CONSTA QUE LUTOU EM CACHOEIRA PAULISTA, LORENA, CRUZEIRO E OUTRAS CIDADES DA REGIÃO. SUA FILHA OLINDA PRECISA DE COMPROVANTE DA PARTICIPAÇÃO DO PAI PARA FINS DE PENSÃO ESPECIAL.
ResponderExcluirO VETERANO SEBASTIÃO SATURNINO DE BARROS nasceu em 23 de outubro de 1910. QUALQUER NECESSIDADE entre em contato com DONA OLINDA pelo celular 95330 0430 ou pelo telefone 3451 2170
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